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Psicanálise: pra quê? - Luciana Ernanny Legey

Na psicanálise, o paciente começa mergulhado em seu sintoma. Entende que precisa de ajuda. Chega então ao consultório do analista com sua primeira demanda: me aceite como paciente, pois preciso que alguém entenda o que eu digo. Miller diz que “Começa aí, na demanda de avalizar, autorizando a auto avaliação de alguém que quer ser paciente, o ato analítico.” (Miller, 1999, p 223) Sobre o início de análise, o analisante ainda não sabe o que está por vir. Procurou ser paciente e foi aceito. Procura a felicidade. Afinal, o que quer o homem, se não “ser feliz”? No entanto, descobre na análise que há algo de que se queixa, mas que ao mesmo tempo o faz feliz. Para ele, é um paradoxo. O analista, depositário de confiança, é então colocado no lugar de suposto saber pelo analisante e oferece a ponte para que em análise possa retornar à palavra sobre algo por ele já conhecido, mas até então sem possibilidade de recuperação da sua enunciação individual e única, seu estilo próprio que o coletivo encobre e sufoca. Na psicanálise, como já foi dito, há o encontro de uma dupla em que um analista dirige o tratamento, mas não o paciente.

Já no final de uma análise, o analisante finalmente destitui o analista deste lugar de sujeito suposto saber.

Numa sessão analítica, o mais importante é o encontro com o analista. Em seu texto ‘Intervenção sobre a transferência’, Lacan já pontuava que “numa psicanálise, com efeito, o sujeito propriamente dito constitui-se por um discurso em que a simples presença do psicanalista introduz, antes de qualquer intervenção, a dimensão do diálogo.” (Lacan, 1998, p 215). É que o analista é o homem a quem se fala e a quem se fala livremente, mas pontua que ouvir não é o mesmo que compreender. Lacan então nos situa que sem desejo não há que se falar sobre o desejo do analista, um conceito que deve ser entendido como desejo do nada. O desejo do analista é o único que não é sustentado pela fantasia do sujeito, mas pelo desejo de obter a pura diferença, pois não existe ação lacaniana nem ato analítico se no encontro não há desejo de ambos.

Vê-se que instalada a transferência, especial forma de amor, o analista então é pago pela descoberta do amor ao saber inconsciente pelo analisante, que descobre que somente através de sua própria fala pode se desprender de valores e ter acesso à dimensão de seu inconsciente transformando-se em sujeito.





LUCIANA ERNANNY LEGEY é especializada em Teoria Psicanalítica (Cogeae/PUC-SP), formada em Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU/SP, formada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Associada ao Centro de Investigação da Ansiedade (Clin-a), onde atende e coordena um grupo de praticantes que atuam na clínica social do Instituto.

Atua em consultório particular atendendo crianças, adolescentes e adultos. Trabalha com ampla gama de tratamentos, sem predominância de um sobre o outro, mas sempre com base na psicanálise freudiana e lacaniana, que tem sido suas orientações de trabalho.

1 commentaire


cacauzui74
31 juil. 2023

Amei

A tempos tenho me interessado por esse universo. Que bom que hoje muito se fala sobre saúde mental.

W❣️

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