Meu amor pelas folhas é declarado: gosto das sopas verde-grama, dos enrolados de taioba, das saladas feitas com as alfaces mais tenras, dos pestos de manjericão e todas as outras ervas, das coentradas, de aspargos, couve, espinafre, rúcula…a lista é interminável.
Nas feijoadas do meu avô, sagradas em todo 11 de maio, pescava as trouxinhas de couve, que comia com banana-da-terra. Que delícia!!! Mesmo eu, criada em Copacabana, acostumada aos prazeres de bons bifes suculentos saídos da cozinha lá de casa, no oitavo andar da pacata rua Felipe de Oliveira, ou da cozinha da vizinha, Dona Marieta, que me mimava com tournedos com manteiga derretida, mesmo eu sou capaz de atingir a saciedade absoluta com um punhado de folhas verdes.
Embora não seja nem vegetariana, nem vegana, gosto quando me impõem a restrição alimentar: nada de carnes! Não me aperto, pois vivo bem na frugalidade, pratico a desintoxicação providencial, mas –por opção – me reservo a liberdade de seguir meus impulsos, mesmo os mais primitivos, de carnívora, e seguir com a porta da gaiola aberta…
Mas vamos aos 50 tons de verde. É onde está o nirvana. O seu, o meu, o nosso.
Pra começar o dia, suco verde, que pode não ser nem tão verde assim, em função do que entra na batida: gengibre, cenoura, funcho, aipo, inhame, pepino, beterraba, hortelã, salsa, couve, maçã…muitas possibilidades. A seguir, um bom cracker ou pão de respeito, com tahine, azeite e tomates.
Antes do almoço, um gazpacho recriado com liberdade. Pode ser o clássico, andaluz, mas vale o improviso com o que se tem na geladeira. Pepino, tomate, pimentão, ervas frescas. limão, azeite, um toque de pimenta. Bebido antes da refeição, sacia, e prepara o estômago para receber os alimentos que virão.
O almoço pode ser de muitos tons. Um hari chatni (ops, não é chutney?) de ervas frescas que faz uma faxina no corpo e no espírito, para comer acompanhado de arroz basmati simples e uma salada, para equilibrar o excesso de um banquete, ou mesmo durante um almoço mais pesado, contrabalançando… Este molho verde contém os seis sabores, não é incrível? Parece a versão indiana do pesto. Uma xícara de folhas de coentro, uma de folhas de hortelã, suco de um limão, 1/2 xícara de coco ralado, sal, pimenta recém-moída, uma colher de café de grãos de cominho, uma pimenta verde, uma colher de café de grãos de mostarda, uma colher de sopa de óleo de gergelim. Assim: tostar os grãos de cominho, depois triturá-los no alguidar. Saltear os grãos de mostarda em um pouquinho de óleo. Tirar as sementes da pimenta verde, cortar fininho. No alguidar, no processador ou num moinho, misturar todos os ingredientes, acrescentando sal, pimenta e limão a gosto.
Aventure-se!
SANDRA S. é carioca, formou-se em letras (cup-rio), com pós em literatura brasileira (puc-rio), e direito (ucam-rio). na frança, fez dois estágios profissionais de confeitaria na école lenôtre. hoje, escreve, traduz e cozinha. biblioteca.culinaria@gmail.com @setecolheres
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